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Carta Aberta de Caroline Para King’s Abott

Por: Gabrielly Souza.


Cinco minutos para as quatro da tarde, faz onze horas que meu irmão James foi dado como morto, dizem que ele cometeu suicídio por veronal. Mesmo depois de ter achado seus manuscritos não consigo acreditar. Ao meu irmão faltam escrúpulos, não teria coragem suficiente para se matar, mas ainda assim assassinou a sangue frio, seu amigo Mr. Ackroyd. Morei uma vida ao seu lado, é narcisista demais para deixar-se levar por culpa ou pena de alguém, talvez a pena de me fazer sofrer, mas não. Ele me vê apenas como uma velha irmã fofoqueira. Hoje pela manhã, após o corpo do meu irmão ser encontrado em seu escritório, Mr. Poirot veio até mim oferecer suas condolências me afirmando que aquilo foi o melhor a ser feito, após se despedir e conceder a mim o seu número de telefone, para que pudesse manter contanto. Não consigo concordar com Mr. Poirot, algo na morte de meu irmão me importuna.

Desejo vê-lo, entretanto a Srta. Gannett e o Coronel Carter não me permitem, evidenciam que irá afetar a minha saúde, presenciar o cadáver de James após convulsões e uma overdose fatal. Meus instintos não me deixam encontrar paz para um chá da tarde, exigem a ida ao quarto onde o corpo do meu irmão repousa à espera de seu funeral. Ao chegar lá me aproximo lentamente do cadáver, com meus nervos à flor da pele, algo não estava certo. James estava respirando, como minha intuição dizia, meu irmão não estava morto, é inacreditável como ele conseguiu enganar a todos. Eu não posso deixar que o Dr. Sheppard – esse homem deitado nessa cama não é meu irmão, meu irmão morreu há onze horas atrás – sobreviva e continue sentindo-se Deus decidindo quem vive e quem morre.

Gabrielly Souza é discente do Centro de Excelência Professor Abelardo Romero Dantas (CEPARD).

Sinto-me aflita, porém preciso agir. Acorda, Caroline, acorda, ele não é mais seu irmão, é um sociopata narcisista. Entro em pânico dentro do quarto junto ao meu irmão. Tudo está escurecendo, minhas mãos tremulam, não sinto mais nada. Quando dou conta de mim, James está segurando meu braço tapando minha boca, relutante até tento me soltar, de nada adianta.

Minha querida Caroline, me perdoe a insensibilidade perante a ti, mas não posso deixar que estrague meus planos. Se deseja saber como ainda estou vivo é simples. Uma dosagem a menos muda os efeitos de um veneno, serviu a mim apenas como um descanso em que meus batimentos cardíacos ficaram lentos o suficiente para que não pudessem ouvir, e agora sou apenas o falecido Dr. James Sheppard.

Sem saber o que fazer me jogo sobre ele. Vejo apenas uma saída, a morte do Doutor. Sobre o criado-mudo uma seringa, e agora lá está ela enfiada em seu peito, não consigo olhar em seus olhos, apenas saio do quarto aos tropeços, tranco a porta com medo de que ele possa estar vivo. É impossível que ele sobreviva, a dose de veronal em seu corpo não foi controlada. Eu não matei ninguém, ele já estava morto, apenas lhe trouxe paz.

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