Pelos idos de 1816, no ano sem verão, jovens intelectuais embebidos da estética romântica se reuniram em Genebra, na Suíça, para lerem histórias de terror e se desafiarem a escreverem suas próprias narrativas. Ninguém poderia imaginar que a mais jovem entre eles – a garota de 18 anos Mary Shelley – presentearia a humanidade com aquela que seria a sua obra-prima, Frankenstein. O livro descortina as facetas de um médico que desafiou os limites da natureza, roubando o fogo dos deuses para criar vida a partir de restos humanos.
Frankenstein ou o Prometeu Moderno foi o livro do mês de outubro do Clube Sementes do amanhã. Permeados de angústias, incertezas e ávidos por preencherem lacunas que foram descortinadas ao longo da leitura, foi que os integrantes do grupo se reuniram para mais uma roda de conversa. Desta feita, atendendo ao convite dos anfitriões e entusiastas do clube, Marcelo Perez e Maria Eduarda, rompemos literalmente os muros escolares e nos dirigimos para um espaço ao ar livre, acolhedor, instigante e reflexivo, o Parque das Palmeiras, ponto turístico de nosso munícipio, localizado no povoado Brejo.
Para esse encontro contamos com uma participação recorde de nossos leitores, que deixaram suas casas em um feriado nacional para proclamarem em alto e bom som, que a leitura continua sendo o caminho para uma educação transformadora e libertadora. Não obstante, a distância e os entretenimentos presentes em um dia de folga. Fomos testemunhas oculares de um encontro capaz de reunir mais de quarenta jovens para dialogarem sobre literatura, história, filosofia e religião, tamanha é pluralidade do texto literário que proporciona a integração destas ciências.
Ao longo do encontro, os membros do clube expressaram suas opiniões sobre a autora, o contexto em que a obra foi lançada e obviamente sobre a criação de Victor de Frankenstein. Foi notável um certo desconforto para alguns integrantes em contemplar a escrita do século XIX. Natural para um grupo heterogêneo, com níveis de leitura variados e de diferentes idades. As divergências de opiniões só vieram corroborar com o amadurecimento intelectual e confirmar que essa garotada caminha a passos largos em uma trajetória repleta de relíquias literárias.
Em meio as calorosas e eufóricas contribuições, alguns questionamentos foram pertinentes, precisos e instigantes. Em Frankenstein quem seria o homem e quem seria o monstro? O homem nasce bom e a sociedade realmente o corrompe? Quais são os limites da ciência? Nessa seara de indagações, percebemos de maneira prática o quanto o protagonismo juvenil está presente no clube, cabe aos integrantes mais experientes e com uma bagagem maior de leitura instigar e lapidar essas joias.
Uma tarde memorável, recheada de conhecimento e de laços afetivos, assim ficará cravado em nossas memórias o Feriado da Proclamação da República (15/11). Olhamos no retrovisor da história do clube e rememoramos nossa caminhada com entusiasmo, ao percebermos o quantos crescemos e nos consolidamos ao longo dos anos. Finalizamos nosso encontro em um abraço coletivo, a qual a natureza e o Sementes se fundiram em uma aquarela de sentimentos e magias.
Ao entardecer, fomos premiados com a ocultação do sol no horizonte, com o ciciar das cigarras e o canto dos pássaros. Um cenário que faria Gonsalves Dias, adoçar suas palavras: “minha terra tem Palmeiras onde canta o sabiá.” E a missão do sabiá, tem sido a missão do Sementes do Amanhã, ressoar o nosso canto na perpetuação de uma cultura leitora e crítica, nos cantos e recantos de nossos torrões!
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