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SONHOS ÁRIDOS


Ilustração: Kamilly Vitória

Por Lúcia Vieira


Euclides da Cunha, antes mesmo de Graciliano Ramos dedicar o seu tempo para escrever Vidas Secas, saiu da zona de conforto para documentar minuciosamente a Guerra de Canudos e comentar sobre aquele povo, que aos seus olhos, aparentavam uma força descomunal. Descrevia ele, no livro “Os Sertões”, o sertanejo é, antes de tudo, um forte. Tendo em vista essa frase, ao decorrer da minha leitura de Vidas Secas, constantemente, a consciência trazia a memória esse pequeno trecho em destaque: o sertanejo é, antes de tudo, um forte.

Via a imagem de Fabiano, junto a sua família, caminhando cambaleante sobre um sol tortuoso e com os pensamentos sendo consumidos pela incerteza da sobrevivência. O sertanejo foi, antes de tudo, um povo abandonado e desumanizado pelo governo.

Graciliano Ramos, assim como a maioria dos modernistas, preocupava-se em denunciar as mazelas sociais que corriam a sociedade brasileira. Com esmero, em Vidas Secas, somos convidados a adentrar em um território desconhecido e desvendar, entre rugas de envelhecimento precoce e queimaduras de um sol escaldante, a fome, o sofrimento e a injustiça estabelecida em um núcleo familiar, os quais carregam, aos nossos olhos, sonhos tão modestos. No entanto, para eles são ilusões fundamentadas de esperança, em que em muitos momentos acabaram perdendo o brilho.

Inseridos nesse contexto, é interessante observar que o autor opta em personificar a cachorra Baleia em detrimento aos filhos do casal, Fabiano e Sinha Vitória, os quais nem mesmo nomes têm dentro do enredo. Ademais, para além desse detalhe, a perspectiva do pai em relação a sua prole é um destino semelhante ao dele, não há em Fabiano expectativas de um futuro mais favorável para os meninos. Ele é amargo em afirmar que “os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo”.   

Vidas Secas, sobretudo, assume o papel de demonstrar a existência de um cenário árido, acima desse aspecto geográfico, de esperança, de sonhos, de vislumbrar uma vida digna.

Por fim, Graciliano Ramos, similar ao próprio título da obra, é seco no desenrolar da narrativa, contudo, não significa, necessariamente, que nós, leitores, devemos aderir semelhante postura. A indiferença é um dos diversos sentimentos que o autor, e tantos outros, tentam combater.  

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