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VIDAS SECAS: UM RETRATO SÓLIDO DO PASSADO/PRESENTE NORDESTINO.

Clara Fonseca

“Se ao menos pudesse recordar-se de fatos agradáveis, a vida não seria inteiramente má."

Bastava tão pouco para ser feliz. Fabiano queria um pouco de dignidade, não ser humilhado, nem tratado como um bicho. Sinha Vitória queria uma cama igual a de Seu Tomás da Bolandeira, para finalmente se livrar da cama de varas que tanto desprezava. O menino mais novo e o menino mais velho queriam um pouco da atenção dos pais, para pelo menos uma vez na vida serem ouvidos. Já para Baleia bastava um osso para comer e um pouco de liberdade, que a cachorra estaria completamente satisfeita.

Jamais fez parte do nosso pensamento almejar pequenas coisas como as que foram mencionadas acima. São detalhes tão simples, que passam despercebidos no nosso dia a dia. Por isso, nós exigimos muito mais e nunca estamos completamente satisfeitos. Sempre nos falta alguma coisa, por mais fútil que seja. Por que tamanha ingratidão com a vida? Por que a reclamação e a estupidez constituem o ser humano?

Vidas Secas, romance de Graciliano Ramos, nos convida a refletir acerca da condição da natureza humana, que, mesmo sendo testada, reprimida e diminuída, sempre encontra espaço para recomeçar. O escritor, com proficiência, utiliza uma linguagem que cria uma atmosfera única, capaz de nos transportar para as áridas e angustiantes terras nordestinas.

Submissão, miséria, inferioridade, negligência e injustiça são apenas alguns dos traços que compõem o ambiente sofrido e hostil que a família de Fabiano enfrenta na tentativa de sobreviver. Trata-se de um enredo duro e profundo, visto que o leitor vivencia sensações confusas e inexplicáveis ao longo dos capítulos, uma vez que são repletos de significados, analogias e detalhes minuciosos.

Não haveria título mais fascinante para descrever o destino cruel de invisibilidade dos retirantes que protagonizam o romance. São realmente vidas secas: secas de sentido, secas de instrução, secas de dignidade, secas de cuidado, secas de afeto. Este livro não é apenas um retrato do passado nordestino, mas um retrato atemporal que dialoga conosco, levando em consideração que as inúmeras questões sociais e humanas exploradas na obra infelizmente persistem no cenário hodierno.

Graciliano Ramos foi forte, verdadeiro e intenso em suas palavras. Vidas Secas, um dos clássicos brasileiros, é simplesmente encantador, emocionante e sensível, por nos ensinar tanto sobre a vida, e ser um verdadeiro soco no estômago, com contundentes críticas sociais.


 

Clara Fonseca, Autora do texto

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